Chegavam, e em menos de cinco minutos, já estavam os times formados e eles divertindo-se jogando futebol.
Passavam horas e horas naquele "campinho" de terra batida, cercado de mato por todos os lados, ao fundo a horta do seu "Sisso".
Podia chover, fazer sol de rachar mamona, que os garotos não abandonavam aquela fonte de imensa alegria e satisfação, parecia que os seus pés tinham camadas protetoras contra a terra quente, quantas chuvas fortíssimas, chuvas de terra, eles enfrentavam para podre continuar o jogo.
Poucos metros abaixo, o "campão", ou o "campo do Bar do Rafael", como era conhecido, campo muito grande, gramado, onde se enfrentavam vários marmanjos, e só gente grande podia jogar ali, exceto alguns menores de muita habilidade que eram escalados de vez em quando.
Mesmo assim, era o "campinho" que atraia o encanto da molecada, parecia que ali o tempo parava, os relógios, as horas, para nós não existiam, era demais poder jogar futebol o dia inteiro, e no fim da tarde, ver ao longe o sol deitando-se na região da usina Zanin, com seus braços abertos para nós.
Só deixávamos de jogar quando a bola sumia no mato, ou não conseguíamos encontrar a bola na horta do seu "Sisso", devido à escuridão da noite, enfeitada pelas estrelas.
Muitas vezes com a ocasião do empate, como não gostávamos de deixar para depois, decidíamos a partida sob a luz da lua cheia, que servia como refletor.
Durante os fins de semana, aquele pedaço de terra batita lotava, os "marmanjos" muitas vezes migravam para o "campinho". Nesses dias, perdida a primeira partida, muitos abandonavam, e ficavam só assistindo, pois a chance de jogar de novo antes do anoitecer era pequena.
A bronca geral era do dono da "mercearia do gaúcho", que tinha as paredes do mercadinho bombardeadas belos chutes fortíssimos dos moleques. As nossas mães também ficavam loucas, iradas com a cor de nossas roupas, parecíamos todos uns tatus. Era comum chegar em casa e ouvir:
- " Vá se lavar no tanque antes de ir tomar banho".
Nós, a molecada da época cuidávamos do "campinho" como se fosse partes integrantes de nossos corpos, se quisessem nos ferir, era só falar que um dia o "campinho" seria destruído, para nós ele tinha vida, e era considerado imortal.
Mas um dia tudo acabou, Jailton, bem mais velho que nós, mas que também compartilhava do "campinho", comprou o terreno e construiu sua casa ali.
Chegara ao fim mais de dez anos (1991 a 2002) de alegrias, emoções fortes, três gerações de garotos que ali se divertiam e na inocência de criança, acharam que duraria para sempre.
Para muitas pessoas, isso é uma grande bobagem, mas quando criança, o que se faz e recebe de bom ou ruim, leva-se por muito tempo na caminhada da vida.
Daria para escrever um pequeno livro sobre o "campinho", mas não sei se conseguiria tal feito, talvez mais pra frente, escreva algum conto, texto, etc, para deixar eternizado nas páginas, as brigas, as confusões dos meninos, os campeonatos, os clássicos, os times que marcaram ("time do Boinha", "time do Dé", "time do Marquinhos").
Escrevi este pequeno texto para relembrar a parte mais marcante da minha infância, e da maioria da molecada da nossa época, para dizer que hoje em dia é raridade encontrar um “campinho’ de futebol nas áreas urbanas, e a molecada de hoje está tendo a infância encurtada e poluída por vídeos games, orkut e MSN”.
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