sábado, 4 de fevereiro de 2012

Marcha Contra o RACISMO, a Higienização Sócio Racial e a Criminalização da Pobreza


Marcha Contra o RACISMO, a  Higienização Sócio Racial e a Criminalização da Pobreza

DIA 11 DE FEVEREIRO
SÁBADO

Concentração às 14h
Praça do Metro Santa Cecília - SP

para maiores informações acesse: http://www.contraogenocidio.blogspot.com/

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O Haiti que Dilma visita (contado por Eduardo Galeano)

31/01/2012

“Os escravos negros do Haiti propinaram uma tremenda surra ao Exército de Napoleao Bonaparte; e em 1808 a bandeira dos livres se alçou sobre as ruínas.

Mas o Haiti foi, desde ali, um país arrasado. Nos altares das plantações francesas de açúcar se tinham imolado terras e braços, e as calamidades da guerra tinham exterminado um terço da população.

O nascimento da independência e a morte da escravidão, façanhas negras, foram humilhações imperdoáveis para os brancos donos do mundo.

Dezoito generais de Napoleão tinham sido enterrados na ilha rebelde. A nova nação, parida em sangue, nasceu condenada ao bloqueio e à solidão: ninguém comprava dela, ninguém lhe vendia, ninguém a reconhecia. Por ter sido infiel ao amo colonial, o Haiti foi obrigado a pagar à França uma gigantesca indenização. Essa expiação do pecado da dignidade, que esteve pagando durante um século e meio, foi o preço que a França lhe impôs para seu reconhecimento diplomático.

Ninguém mais o reconheceu. Nem a Grande Colombia de Simon Bolívar, mesmo se ele lhe deveu tudo. Navios, armas e soldados o Haiti tinha lhe dado, com a única condição que libertasse aos escravos, uma ideia que não tinha ocorrido ao Libertador. Depois, quando Bolívar triunfou na sua guerra de independência, negou-se a convidar o Haiti ao congresso das novas nações americanas.

O Haiti continuou sendo o leproso das Américas.

Thomas Jefferson tinha advertido, desde o começo, que tinha que confinar a peste nessa ilha, porque dali provinha o mal exemplo.

A peste, o mau exemplo: desobediência, caos, violência. Na Carolina do Sul, a lei permitia prender qualquer marinheiro negro, enquanto o seu navio estivesse no porto, pelo risco de que pudesse contagiar a febre antiescravista que ameaçava a todas as Américas. No Brasil essa febre se chamava haitianismo.

Postado por Emir Sader para Carta Maior

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A VERDADEIRA HISTÓRIA DO HIP-HOP

Extraído do blog: Equipe funk machine

A história do Hip-Hop nasce nos guettos negros de Nova Iorque nos anos 70, e afirma-se como o mais importante movimento negro e jovem da atualidade.

Muitos países foram construídos com o trabalho escravo de negros raptados das suas terras em África. Em muitos locais a abolição da escravatura foi conseguida através da luta e revolta, batalhas incontáveis, meras notas de rodapé nos livros de História, cheios de heróis brancos tão generosos, que estenderam a mão para tirar, tanto índios como negros da sua ignorância, dos seus costumes bárbaros e das suas religiões pagãs.

Nos guettos americanos juntaram-se aos negros outros marginalizados, mas, se periferia é periferia em qualquer lugar, o que terá acontecido para que o Hip-Hop surgisse naquele lugar ? Para entender o nascimento deste movimento teremos de voltar alguns anos na História.

A nossa geração reconhece o Apartheid no sistema político da África do Sul, com as suas leis que, ainda há poucos anos, garantiam naquele país o poder político e económico a uma minoria branca. Deve saber-se que o Apartheid era uma divisão de raças.

Muitos estados americanos, sobretudo os do Sul, onde a escravidão foi mais difundida, tinham até à década de 60, leis semelhantes às do Apartheid. Nos autocarros existiam até bancos separados para negros e brancos, em muitos lugares os negros nem podiam entrar. Até 1954, as escolas públicas eram ou para brancos, ou para "pessoas de cor". Tudo isto na mesma época em que os americanos travavam a Guerra-fria com a União Soviética. Devem lembrar-se que a principal crítica dos capitalistas dos Estados Unidos da América era a falta de liberdade individual nos países comunistas.

Para eliminar a segregação, grupos de negros começaram a organizar-se nos E.U.A, cada organização defendia uma estratégia. Malcolm X e Martin Luther King foram os líderes que mais se destacaram e durante um certo tempo representaram as duas alternativas opostas para os negros americanos na luta pelos seus direitos.

Malcolm era filho de um pastor protestante assassinado pela Ku Klux Klan (organização racista norte-americana), por defender as ideias do também pastor Marcus Garvey, que, nos anos 20, defendia que a saída para a questão da discriminação era a volta dos negros dos Estados Unidos da América para sua verdadeira terra, a África. Órfão, Malcolm enveredou pelo caminho do crime e acabou por ser condenado à prisão, onde se converteu ao islamismo. Seu sobrenome de baptismo, Little, foi trocado pela incógnita "X", para ao mesmo tempo negar a herança escrava. Passou a integrar a "Nação do Islão", seita que pregava, literalmente, que "o homem branco é o demónio", como a espécie humana surgiu na África, eles afirmavam que a pele clara dos europeus era uma espécie de degeneração.

Só que o pensamento de Malcolm passou por uma transformação radical em 1964, quando viajou para a cidade de Meca, na Arábia Saudita, um dever que todos os muçulmanos têm que cumprir pelo menos uma vez na vida, pois encontram-se lá os principais santuários dessa religião. Foi ali, em pleno Médio Oriente, que o líder americano percebeu que as diferentes raças poderiam conviver em paz. São poucas as pessoas que ainda se lembram disso, mas a partir dessa época Malcolm passou a acreditar que os brancos poderiam ajudar os negros a alcançar os seus direitos.

Infelizmente o radicalismo nos E.U.A tinha atingido tal ponto que em Fevereiro de 1965 Malcolm acabou por ser assassinado pelos próprios membros da Nação do Islã, grupo que abandonara para fundar a Organização da União Afro-Americana, logo que voltara de Meca.

Martin Luther King Jr., pastor Batista, também filho de um pastor, defendeu desde o começo da sua militância a alternativa do diálogo e pregava o amor e a não-violência desde os anos 50. Envolveu-se com o Movimento pelos Direitos Civis e procurava a solução para os problemas da população negra dentro das normas da democracia americana. Enquanto Malcolm falava em "auto-defesa", King, inspirado pelas ideias do líder indiano Mahatma Gandhi, preferia a "resistência pacífica". Em 1964, ganhou o prémio Nobel da Paz. Apesar das suas ideias serem diferentes das de Malcolm, o seu destino foi semelhante ao dele. King foi assassinado em 1968. Logo após a sua morte, que marcou o fim de um ciclo na luta do povo negro americano, vários conflitos inter-raciais irromperam em 130 cidades do país.

Durante muitos anos King e Malcolm X tiveram ideias muito diferentes, mas perto da morte do último (depois de ter visitado Meca) passaram a concordar em alguns pontos. O principal era que antes de qualquer concessão branca, para chegar a uma convivência pacífica, era necessária uma separação, a fim que todos os negros restabelecessem a sua auto-estima, a capacidade de organização comunitária e a solidariedade.

Para a população negra dos Estados Unidos os anos 60 foram marcados por , roubos, confrontos com a polícia e incêndios. O povo branco apavorou-se, pois centenas de anos de dominação estavam ameaçados. O governo federal determinava leis, mas não podia impedir que a população continuasse a discriminar os negros.

Os anos 60 também foram um tempo de agitações políticas nos E.U.A. Entre 1965 e 1975, os Estados Unidos estiveram em guerra com o Vietname, era a época da Guerra-fria, os americanos temiam que o comunismo dominasse o mundo. Por isso, o governo queria derrotar o exército comunista do Vietname do Norte e manter o capitalismo no Vietname do Sul. Enviou para a morte dezenas de milhares de jovens americanos, produziu outros tantos mutilados e traumatizados pela violência presenciada (muitos voltaram viciados em drogas, principalmente heroína) o que causou fortes reacções.

Protestos contra a guerra surgiram por todo o país. O boxer negro Mohammed Ali foi um dos milhares de jovens presos por se recusar a lutar no Vietname.

Entre os soldados que voltavam da guerra existiam muitos negros e latinos. Nessa época, o consumo de drogas nos guettos como Bronx e Harlem aumentou imenso. Esses ex-combatentes eram discriminados porque a população tinha visto na televisão que o exército tivera atitudes desumanas no Vietname. Eles tinham dificuldade para se reintegrar na sociedade e para conseguir trabalho, acabavam então na marginalidade.

O assunto pode parecer distante, mas estes acontecimentos políticos e sociais estão relacionados com o nascimento do Hip-Hop.

Depois da morte de Martin Luther King, em 1968, a solução pacífica para os problemas dos negros parecia cada vez mais distante. É nessa época que surgem propostas mais violentas e agressivas, como o Partido dos Panteras Negras (do qual a mãe do rapper 2Pac participou). Eles começaram em Oakland, perto de São Francisco, na Califórnia (costa oeste dos E.U.A), depois fundaram escritórios em todos os estados americanos. Realizavam actividades comunitárias, tinham uma revista que chegou a vender 150 mil cópias por semana. O seu programa político era revolucionário e chegava a adoptar algumas ideias do líder comunista guerrilheiro chinês Mao Tsé-tung.

A proposta que ganhava força entre o povo de raça negra foi chamada de Black Power (Poder Negro). A intenção não era desafiar o governo, mas sim decidir os rumos da sua própria comunidade, sem influências da raça branca (uma ideia bem parecida com o que Malcolm X defendia). Porem, Black Power é frequentemente associado aos conflitos armados que aconteceram nas metrópoles americanas.

No caso dos Black Panthers, utilizavam uma abertura na lei americana para intimidar os policiais brancos. Quando viam algum negro a ser agredido, aproximavam-se armados com revólveres e espingardas. Como tinham o direito ao porte de armas, nada podia ser feito contra eles. Se tentassem alguma violência, os Panteras podiam alegar "legítima defesa" (poderá ver-se claramente como era feita esta acção no filme Black Panthers, de Mário Van Peebles).

Tanta agressividade não podia deixar de chamar a atenção. Antes do início da década de 70 a polícia americana tinha fechado quase todos os escritórios dos Black Panthers. Muitos militantes foram assassinados ou aprisionados. Milhares de jovens protestaram pela libertação de Huey Newton, um dos líderes fundadores dos Black Panthers, preso pelo FBI.

Os Black Panthers, com toda a repressão a que estavam sujeitos, enfraqueceram-se, mas plantaram a sua semente no Hip-Hop.

Ao longo dos anos, a situação dos negros americanos melhorou e a violência dos protestos diminuiu.

Ao acompanhar toda esta agitação política podemos constatar que ocorreram inúmeras inovações culturais. Para os negros dos Estados Unidos da América, os anos 60 não eram de rock'n'roll, nos guettos, o que se ouvia era o Soul, naquele tempo importantíssimo para a consciência do povo negro. James Brown cantava "Say it loud: Im black and proud!" (Diga alto: sou negro e orgulhoso!), frase de Steve Biko, líder sul-africano. Mas essa expressão musical caiu na mão do sistema, virou fórmula comercial, ou seja, perdeu o seu potencial de protesto.

Contra-atacando surgiu o Funk, radicalizando novamente, para surpreender os brancos. A agressividade desse estilo não pede explicação. Basta ouvir os poderosos ritmos e os gritos escandalosos do mestre James Brown para perceber que aquilo era um choque para o povo de raça branca.

Naturalmente, tudo aquilo pelo qual os negros passavam era expresso nas suas canções. E como o povo preto dos E.U.A. estava cada vez mais consciente socialmente, devido a toda uma luta política, cada vez mais cantavam ideias de mudança de atitudes, valorização da cultura negra e revolta contra os opressores. Porém, o sistema tentava atenuar os ataques feitos em relação a ele próprio. Eram oferecidos contratos milionários aos cantores do funk. Os artistas alucinados eram conduzidos para as grandes gravadoras, enquanto brancos, mais uma vez, passavam a imitar as inovações da música negra, como acontecera com o rock, cujo rei, Elvis Presley, conseguiu tanta fama justamente por ser um branco com uma voz bem parecida com a dos negros que cantavam blues e R&B. O marco dessa transformação foi o lançamento, em 1975, do LP "Thats the way of the world", do Earth, Wind and Fire. O disco chegou ao primeiro lugar dos Tops Americanos, consolidando um funk extremamente comercial.

O solo musical de onde iria nascer o Hip-Hop estava armado com o soul e o funk. Mas o rap, além de ritmo, é poesia. Sobre este elemento, é preciso lembrar alguns dados pouco conhecidos, porque a grande árvore da cultura negra tem realmente muitos ramos...

Os contadores de histórias que carregavam na memória toda a tradição das tribos africanas preservaram as suas técnicas em versos que passavam de pai para filho.

Nos guettos americanos, essas tradições expressam-se no preaching, no toasting, no boasting, no signifying ou nas dozens (espécie de "desafio" em rima). São versos conhecidos até hoje, que usam a gíria dos bairros negros e impossibilitam a compreensão dos brancos. Contam histórias de prostitutas, desordens, tiroteios e tudo o que envolve a marginalidade.

No início da década de 70, artistas como os Watts Prophets, de Los Angeles, ou os Last Poets e Gil Scott-Heron (criador do famoso verso "A revolução não passa na televisão"), de Nova York, recuperaram essa tradição poética e puseram-na ao serviço de toda a luta política que estava então a acontecer. Recitando poemas sobre bases persuasivas com influências do jazz, esses artistas foram os precursores dos MCs que, poucos anos depois, iriam criar o rap.

Essa base cultural local, que envolvia muitas técnicas de memorização e improviso, foi cultivada no chamado freestyle (rap improvisado).

Mas, voltando ao inicio da historia, apesar do novo ataque do sistema, que enfraqueceu os Black Panthers e contaminando o soul e o funk, em meados da década de 70 ocorreu mais uma revolução musical nos guettos americanos.

Na Jamaica de Kool Herc, os DJ's costumavam recitar versos improvisados sobre versões dub (espécie de remixagem artesanal) dos seus reggaes predilectos. Revivendo os gritos africanos, os DJ's jamaicanos ditavam mensagens políticas e espirituais enquanto tocavam as músicas predilectas do seu público. Só que em Nova Iorque, naquele tempo, o que fazia sucesso eram o funk, o soul e outros ritmos afro-americanos. Assim, Kool Herc teve de adaptar o seu estilo, nas festas de rua que promovia, passou a cantar os seus versos sobre instrumentais das músicas mais populares no Bronx, de modo semelhante ao dos Watts Prophets, Gill Scott Heron e os próprios jamaicanos.

Como os trechos usados como base (em inglês chamados de breaks), como a batida apropriada era curta, ele teve a brilhante ideia de usar uma mixer, junção de uma ou mais músicas, de dois discos parecidos para repetir indefinidamente o mesmo pedaço de música.

Se Kool Herc criou o conceito de break beat, um outro DJ do Bronx, Grandmaster Flash, que alguns consideram como seu discípulo, desenvolveu o scratch (o qual, segundo o livro português "Ritmo e Poesia Os Caminhos do Rap", de António Concorda Contador e Emanuel Lemos Ferreira, foi, na verdade, criado por um rapaz de 13 anos, Grand Wizard Theodor). Ele também teria criado o backspin, que antecipou artesanalmente o que, alguns anos depois, os samplers seriam capazes de fazer.

Kool Herc apenas falava algumas gírias e ditados populares. Além disso, era fácil para ele fazer brincadeiras com as pessoas que assistiam, porque quase todos se conheciam. Com o sucesso das festas, os improvisos (o famoso freestyle) foram ficando mais elaborados, envolvendo versos populares tradicionais. Nessa época, o rap ainda era chamado de "MCing" (ato relativo ao MC ou mestre de cerimónias).

Kool Herc, com o tempo, passou a dedicar-se mais às suas invenções de DJ e convidou dois amigos, Coke La Rock e Clark Kent para os microfones. Juntos eles apresentavam-se como Kool Herc and the Herculoids. Segundo DaveDavey DCook, este foi o primeiro grupo de MCs da história. Grandmaster Flash, por sua vez, chamou os companheiros Cowboy e Melle Mel para se apresentarrem como MCs nas festas que organizava. Alguns anos depois, os três juntaram-se a Kid Creole, e formaram os Furious Five.

Entende-se assim o porquê de se dizer que o Hip-Hop se encontra sobre quatro bases. A arte do DJ e a do MC surgiram como dois elementos separados, que se complementam. A sua evolução aconteceu simultaneamente, mas em paralelo, cada um desenvolvendo os seus próprios recursos.


DaveDavey DCook explica o sucesso do novo estilo :

"O rap pegou porque oferecia aos jovens de Nova York a oportunidade de se expressarem livremente (...), era uma forma de arte acessível a qualquer um. Não é preciso um monte de dinheiro ou um equipamento sofisticado para rimar. Nem se precisa fazer um curso. (...) O rap também se tornou popular porque oferecia desafios ilimitados. Não havia regras, excepto ser original e rimar na batida da música. Tudo era possível. Fazer um rap sobre o homem na lua ou sobre quão bom um DJ é."

Além disso, as festas de rua eram praticamente a única alternativa para o lazer dos jovens dos guetos. Claro que, se todos tivessem dinheiro para pagar o ordenado de um grupo musical, o equipamento para amplificar bateria, guitarras, baixo, talvez não optassem simplesmente por ouvir discos. O rap surgia num meio de pobreza, mas de gente criativa que inventava mais uma vez a alternativa para continuar a ter momentos de alegria, diversão e arte.

Assim aparece um estilo que é a essência da música, o ritmo, junto da essência da alma, a poesia. Rhythm and Poetry (Ritmo e Poesia) é o rap.

Na mesma época, para além do rap, desenvolveram-se outras manifestações artísticas nos guetos americanos, seguindo caminhos paralelos, mas ao mesmo tempo próximos.

O artigo "Hip-Hop Break", na revista Agito Geral, n. 2, esclarece um pouco mais sobre as origens da dança:

"Nova York, ou Califórnia? Há muitas especulações para se saber de onde vieram os primeiros b-boys, abreviatura de break boy (pessoa que dança brekdance). (...) Os primeiros indícios de um boogie boy, mais tarde chamado b-boy, apareceram num show de James Brown, em 1969. Mas a explosão do break dance aconteceu realmente na década de 70, com a apresentação do grupo LA Lakers na abertura do maior programa de prémios da música negra americana, o Soul Train. A transmissão via Televisão transformou o break na sensação das ruas e das festas de Los Angeles."

Então o que era aquela nova dança que começava a aparecer ? Segundo o livro "Ritmo e Poesia": "O breakdance vai desenvolver-se ao sabor da contorção dos breaks entre e dentro das músicas, formando um novo corpo rítmico no interior das mesmas e conduzindo o DJ e seu público a uma nova forma de abordagem do tema reconstruído e interpretando através da dança das quebras rítmicas. Dançar o break consiste literalmente na execução de passos que procuram imitar essa ruptura e essa forma sincopada de reconstruir o próprio ritmo."

Esta dança de rua é mais que uma simples arte, passando a ter um significado social, pois, ela ajudava a manter os jovens longe da marginalidade. Os sociólogos que analisaram o movimento concordam, pois quando os jovens do Hip-Hop se reúnem para ver quem dança, desenha, compõe, canta melhor, ou é o DJ mais habilidoso, vemos o coração do movimento, pois essa competição é algo positivo ao incentivar uma atitude constante de criação e de invenção a partir de recursos bastante limitados.

Além da música e da dança, existe também a arte de desenhar e escrever em muros, paredes e qualquer espaço desocupado da cidade. O grafite surgiu inicialmente como tag (assinatura). Em meados da década de 60, os jovens dos guetos, também de Nova Iorque, começaram a pintar as paredes com os seus nomes. "Taki 183" (Taki como pseudónimo de Demetrius e 183 por causa do número da casa dele) foi o precursor do grafitti. No início da década de 70, ele começou a espalhar a sua marca por toda a cidade de Nova Iorque e iniciou uma verdadeira guerra com outros "Writers" (pessoa que faz grafitti) para ver quem assinava o maior número de paredes possíveis, nos lugares mais difíceis.

O tag passou então a ser usado pelas gangues de jovens, como código para demarcação de território dentro do gueto. Foi um jovem grafiteiro, o DJ Kid, que introduziu o desenho ao TAG. Ele percebeu que, para a continuação daquele estilo de arte, seria necessário incluir o desenho à simples assinatura. Além disso, o estilo do grafite delineou-se com letras quebradas e garrafais para chamar a atenção e dificultar o entendimento dos que pouco ou nada entendem acerca das raízes do Hip-Hop. No início dos anos 70, surgiu o grafiteiro Phase 2, que criou painéis coloridos para transmitir mensagens positivas. Por isso ele é considerado o inventor do grafitti propriamente dito. (diz-se criador do grafitti, mas claro, como vertente do Hip-Hop).

O objectivo dos grafiteiros ampliou-se com a invenção dos painéis coloridos, que lhes davam a oportunidade de emitir mensagens. Desta forma, ocorreu um aperfeiçoamento artístico desses jovens pobres, que a partir da simplicidade do TAG desenvolveram um estilo mais tarde absorvido pelas galerias de todo o mundo.

Tudo isso acontecia nas ruas dos guettos nova-iorquinos na década de 70. Época tumultuada, mas muito estimulante para a criatividade. Grafiteiros, breakers e rappers não tardaram a realizar as primeiras actividades conjuntas, eles conviviam no mesmo espaço, eram todos jovens, marginalizados, pobres, tinham os mesmos problemas, desejos e gostos. Os jovens ligados ao Hip-Hop iniciaram a organização das nações, associações nascidas da necessidade de estruturar o movimento e divulgar os valores do Hip-Hop entre outros jovens.

As nações são gangues reunidas em torno de diferentes correntes do rap. Em Nova Iorque está a maior organização de Hip-Hop do mundo, que existe desde os anos 70, a Zulu Nation.

Sobre a denominação Hip-Hop, sabe-se que o termo foi estabelecido por Africa Bombata, em 1978, inspirado em duas motivações distintas. A primeira delas estava na forma cíclica pela qual se transmitia a cultura do guetto. A segunda estava justamente na forma de dança mais popular na época, ou seja, saltar (hip), movimentando os quadris (hop).

Depois de se tornar fenómeno comercial, o rap afirmou-se como a face mais visível do movimento Hip-Hop. As transformações dos temas das letras, dos estilos, e até mesmo da origem dos rappers, fizeram as vendas aumentar assustadoramente, sobretudo as do gangsta rap. A costa oeste (Los Angeles, São Francisco) acabou por assumir uma verdadeira batalha com a costa leste (Nova Iorque, Washington), chegando ao absurdo de existirem vários assassinatos entre os artistas.

Entretanto, para o Hip-Hop, como movimento social, o principal marco foi o surgimento dos grupos NWA (Niggers with Attitude) e Public Enemy, no fim da década de 80. Com eles, o rap acentuou-se como meio de levar informação à periferia, indo contra o sistema. Em 1990, o Public Enemy declara: "Somos a CNN negra". No mesmo ano, o grupo é investigado pelo FBI e citado num relatório apresentado ao Congresso americano, "A Música Rap e os Seus Efeitos na Segurança Nacional".

Em 1998, o rap vendeu mais que qualquer outro estilo musical nos E.U.A, superando até a música country, foram vendidos 81 milhões de cópias.

No intervalo entre o surgimento do rap no guetto e a sua consagração nos E.U.A, existem duas décadas de evolução e de uma pluralidade que criou nomes tão diversos como 2Live Crew e Public Enemy, Onyx e Arrested Development, De La Soul e Wu-Tang Clan.

Entre 1979 e 1982, ainda se procurava um caminho, o rap equilibrava-se entre artistas como a Sugarhill Gang, grupo nascido sob encomenda por uma gravadora, e outros MCs vindos realmente dos bairros negros de Nova York, como Kurtis Blow.

Essa primeira fase, intitulada de "old school", ou velha escola, completa-se com o "eletro-rap", resultado das inovações electrónicas que Afrika Bambata introduziria no rap a partir de 1982, inspirado em trabalhos como o do grupo alemão Kraftwerk.

A "new school", nova escola, tem o seu início com "The Message";, para alguns, ou com o Public Enemy, para outros. De qualquer modo, o grupo de Chuck-D e Flavor Flav inaugura uma fase em que a tecnologia digital possibilita uma complexidade sonora inédita, enquanto a mensagem de protesto se torna cada vez mais séria, profetizando os conflitos de Los Angeles em 1992.

A essa fase de violência e ira, segue-se o surgimento de uma linha mais amena do rap americano na chamada "daisy age";. A Tribe Called Quest, Queen Latiffah, Jungle Brothers e De La Soul, todos de Nova Iorque, são alguns dos representantes desse estilo, que prezava a ironia e o humor, valorizando as raízes africanas e combatendo a apologia da violência e do machismo que o gangsta traria.

Com o sucesso do rap, o Hip-Hop começou a espalhar-se por todos os Estados Unidos, e as diferenças regionais começam a gerar estilos cada vez mais distintos.

Mas os maiores ataques conservadores contra o rap ainda estavam para vir.

Para entender os padrões que o rap tuga, o chamado rap português, tem criado é preciso observar que somos um país predominantemente católico, ao contrário dos EUA, (mesmo que hoje a realidade tenha sido alterada, historicamente essas religiões influenciaram a cultura dos países, cada uma conforme a sua própria ética), e lembrar, por exemplo, que o papel da mulher na nossa sociedade é muito diferente do que ocorre nos EUA. Repare, por exemplo, no respeito que 99% dos rappers portugueses têm pela figura da mãe.

Como o rap nasceu foi nos EUA, é de se esperar que seja sempre por lá que haja mais diversidade no género.

Conhecemos então a história do Hip-Hop nos E.U.A, desde o seu surgimento nos guettos negros nova-iorquinos.

Mas a cultura Hip-Hop não pode ser totalmente entendida apenas com o estudo dela mesma. O rap é só um dos galhos da grande árvore da música negra. É filho do funk, neto do soul, bisneto do spiritual e do blues ... Irmão do rock. Primo do reggae, do samba ...

Assistindo a antigos filmes de jazz, poderá ver-se claramente as semelhanças entre o break e as antigas danças de rua dos negros americanos do início do século. Sem falar que alguns movimentos brasileiros do break vêm da capoeira e sempre lembrando que os grafiteiros não foram os primeiros homens a desenhar e escrever em paredes e muros.

Assim nasceu um novo estilo de vida, o Hip-Hop, envolvido em décadas de história e produzido por negros, mas, para o mundo!

==> Obrigado ao grandissimo trabalho da Dama Cindy pelo este texto (Peace N Respect Miss)

Ao contrário do que muitas pessoas pensam acerca do termo HIP HOP (associar á violencia, ao roubo e ao vandalismo, etc.), trata-se de uma cultura que está divida em quatro vertentes baseadas na criatividade de quem as pratica. Vertentes essas que abrangem vários campos artisticos tais como o da poesia (MC's), da música (DJ's), da dança (B-Boy's), e da pintura (Writter's).

O principal problema do Hip-hop é que, ele não pode ser consumido, tem de ser vivido, ou seja, não consiste em comprar roupas caras que se considerem do estilo hip-hop, mas sim na pratica e evolução dos skills (O Hip Hop nao é uma moda).


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Vídeo: Mentes Urbanas DCI - África em Chamas (Américo Brasiliense-SP 2008)


Show realizado na cidade de Américo Brasiliense-SP no dia 18.12.2008 que contou com a apresentação de vários grupos locais e da cidade de Araraquara-SP.

Imagens: Marilise Moysés

Interior Paulista na Cena!

domingo, 29 de janeiro de 2012

Felicidade: Direito ou Conquista Pessoal?


Felicidade

Será que alguém ainda acredita que tem direito de ser feliz? O artigo 6º da Constituição Nacional explícita que os direitos sociais são essenciais à busca da felicidade. O sentimento de felicidade esta ali elevado ao patamar de um direito. Todos podem buscar.
Claro que também a busca individual da felicidade esta dentro da observância da felicidade coletiva. Uma não pode ignorar a outra. É legítima a busca da felicidade individual, desde que não impeça a busca dos outros seres sociais. Só não há limites para o sentimento de felicidade. Posso me sentir infinitamente feliz sem prejuízo para ninguém. A felicidade é tão geral que é possível momentos felizes mesmo sem liberdade. Vivi momentos incrivelmente felizes na prisão. Assim como é possível estar livre e não ser feliz. Já fui infinitamente infeliz aqui fora. O bem estar social pode ser dado essencial, mas não conduz, necessariamente, à felicidade.
Atualmente, nessa época de consumismo e ansiedades, a felicidade é encarada como satisfação dos desejos. Esses mesmos desejos ditados pela moda, pelas celebridades ou pelo marketing. Pode ser a obtenção de glórias, poder, fama, dinheiro, ou tudo junto. O reconhecimento profissional ou a ascensão social também podem motivar o sentimento de felicidade individual.
Mas tudo isso pode acabar sendo desfeito. Um erro de calculo, um desastre financeiro ou pessoal, uma doença que pode pegar qualquer um de nós indiscriminadamente...
Para mim, felicidade é um sentimento pessoal tão variável e instável quanto efêmero. Exatamente porque depende dos valores de cada indivíduo e da qualidade de sua aplicação em seu projeto de vida. Talvez seja por isso que ninguém acredita mais em felicidade como um direito e sim como uma conquista pessoal.
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