Chegou o tempo de colher, outra vez o velho e cansado sertão não germinou as sementes que alimentam seus filhos. A lavoura secou, o feijão não deu, os braços fortes que lavrou a terra, não recebeu a bonança da chuva.
Não é a primeira nem será a última, a viajem esta marcada, meus pais, os pais dos meus pais, meus filhos também a fizeram.Os podões que remam nos rios de canaviais, se sustentam pelos braços daqueles não puderam sustentar os filhos ao nascerem, tampouco podem se estar envoltos nos braços da companheira que ficou.Ficou com a missão de ensinar aos filhos as primeiras lições que lhes pede a vida, e saciarem suas fomes.
Seis meses, um ano, e o tempo segue seu curso onde tudo cresce, de quem espera, cresce a barriga, velada por um olhar perdido, doce e triste, nos momentos em que a fome e o choro desvanecem na esperança de outro dia, talvez melhor. Cresce a esperança de voltar pra casa e encontrar um céu nublado prometendo boa colheita. Enquanto sob o céu turvo pela fuligem que escorre com o suor, é clareado por uma lembrança há tempos perdida na fadiga do dia.
Os braços que içam o podão de maneira ininterrupta, alimentam o filho do patrão, constroem a usina, aumenta exportação, faz crescer a economia e juntamente com ela crescem os filhos, desconhecidos, cheios de fome.
Esses braços que constroem o mundo devem saber que são homens, e como tais devem tomá-lo para si.
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