Era mais do que obsessão. Era loucura. Pensava, pensava e pensava. Passando batom, tomando banho. Até na hora do sexo. A voz estridente não a abandonava.
Já subia pelas paredes de seu pequeno apartamento. Pela rua, andava em círculos. No trabalho, sozinha, conversava. As pessoas comentavam pelos cantos. Alguns amigos passaram a não retornar suas ligações. O namorado há cinco dias não comparecia. Decidiu procurar um médico.
Atencioso, ouviu tudo sem dizer uma palavra. Prescreveu um tarja-preta. Ela esbravejou. Queria ser examinada. Não suportava mais aquela idéia fixa na cabeça. O doutor decidiu não contrariá-la. Examinou os olhos, auscultou o peito. Olhou dentro do ouvido. Não acreditou. Olhou de novo. Pegou uma pinça, enfiou com cuidado e puxou. A varejeira ainda estava viva.
*texto publicado em MOSCAS (antologia de mini-contos), org. Marcelino Freire, Edições Dulcinéia Catadora, novembro de 2007.
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