Orquídeo levantou-se às seis da manhã e, como sempre, aprontou seu suco e sanduíche naturais.
Sentou-se no degrau da escada e, enquanto mordiscava o sanduíche e bebia o suco, pôs-se a pensar. Há vinte anos não consumia alimento de origem animal. Até mesmo o leite ele tinha cortado de sua dieta, pois segundo a corrente vegetariana, a qual ele seguia, todo alimento vindo de um ser vivo que se locomove se torna impróprio, seja carne, ovos ou mesmo leite. Carne de soja, esses sim eram alimentos saudáveis. E pensando nisso, saiu para sua caminhada matinal.
Enquanto caminhava, atravessando o parque e apreciando a paisagem do nascer do sol sob a folhagem das árvores, viu algo que o deixou horrorizado, amedrontado e completamente indignado.
Sim, pois agora ele podia enxergar com clareza, compreender o porquê do ser humano ser tão mal, tão egoísta e mesquinho, capaz de destruir tudo o que as vê ao seu redor, Sim agora ele compreendia porque George Bush vinha cometendo tantos crimes contra a humanidade, assassinado milhões de pessoas e degradando o planeta. George Bush e Adolf Hitler pertenciam à mesma espécie carnívora, e ele vira agora, à sua frente, alguém cometendo um ato de extrema selvageria contra outro ser da mesma espécie. O que ele via era um ser humano devorando outro ser humano.
O que era ainda mais assustador é que o canibal devorava sua própria mãe, que permanecia imóvel, como se estivesse hipnotizada. Algo precisa ser feito. Orquídio saiu em defesa da vítima e, a partir daquele momento, o que se ouviu foi só gritaria, pedidos de socorro e choro de bebê.
A balbúrdia só terminou quando Orquídio foi imobilizado, algemado e levado pela polícia.
Hoje, internado em um hospital psiquiátrico e alimentando-se de saladas e ervas daninhas que crescem no pátio, Orquídio vive gritando:
- Leite é carne, leite é carne! – e contando para quem se dispõe a ouvir, a história de canibais banguelas que, por não poderem devorar suas vítimas à dentadas, encontram um meio de devorá-las sugando-lhes a carne.
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