terça-feira, 9 de agosto de 2011

“ÍDOLOS” DE QUEM ? por Fabiana Cozza



A construção da carreira artística está a quilômetros de distância do “mundo encantado de Alice” proposto pelo programa “Ídolos” (Record). Às vezes em que assisti ao “reality show” – dito musical – sempre fiquei com a velha indignação sobre o papel exercido pela TV que, ao meu ver, deveria efetivamente ser educativo e menos apelativo no que tange à espetacularização da imagem alheia, a ridicularização e humilhação de muitas pessoas.
O sonho do “grande ídolo” é uma mentira e efetivamente aqueles milhares de candidatos precisam saber disso. É um jogo de loteria com data de validade para quem “ganha”.
O processo de seleção é de dar dó dos participantes. É a disputa da bizarrice, na maioria dos casos. É de se suspeitar até que a pré-seleção “exija” do candidato um pouco de bufa, de grotesco. Afinal, a TV vive da carnificina humana. A busca iludida e desesperada por um espaço ao sol no hall das celebridades, ou minimamente um buraco para ser visto, leva muitas destas pessoas a perder um valor precioso, a dignidade. E pra mim chega a ser constrangedor, revoltante, ouvir os comentários dos jurados espezinhando ainda mais no couro dos pretendentes.



Quando aparecem cantores, propriamente ditos, poucos não são a cópia – ainda sem entourage - de alguém que já está por aí. A maioria não tem personalidade pois “personalidade artística” também passa por estrada e trabalho efetivo, não cai do céu, e ninguém jamais aprenderá isso num programa com estes moldes.
Quando iniciam-se as disputas a gente vê aquele batalhão de concorrentes cantando samba, xaxado, música caipira, funk, balada, valsa, da mesma forma. E acredito que a culpa não seja deles. É possível que não haja tempo hábil para uma instrução musical efetiva. É possível que a reprodução de padrões fonográficos esteja já tão introjetada no cantar que é impensável mudar da noite para o dia. É possível que ninguém ouviu nada além de meia dúzia de nomes nacionais e internacionais recentes. É fato que não existem escolas de música no Brasil. E é caso encerrado que para ser um ídolo há uma ditatura estética definida.
Os comentários dos jurados – personagens do “reality show” – são descartáveis. Ninguém fala nada que indique ou oriente o candidato a um caminho qualquer que seja. “Você não foi bem hoje, precisa se superar”, “você desafinou naquela nota”, “você se atrapalhou na entrada da canção” etc etc. Não sei efetivamente se alguns dos críticos de plantão consegue discernir uma nota afinada de outra que não. Mas o importante é dar continuidade ao espetáculo. Logo, o papel da banca, dividida entre o “bonzinho”, “o entendido no assunto” e o “mal” é bater e assoprar.
E o vencedor? Onde vai parar o novo “Ídolo”? A legitimidade do título conquistado não os coloca no mesmo patamar de nomes como Ivete Sangalo, Luan Santana, etc e eles também não disputam as páginas de “Caras”. O novo astro não passa de uma marionete.
Pra concluir, como já me disse o escritor e amigo Marcelino Freire: “não conheço um artista brasileiro que – sem qualquer apoio financeiro e/ou sobrenome de gente famosa – viva de sua arte sem ralar muito”.

Acorda, gente!

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